29 setembro 2011

KAIROS - edifício orbital, por Emanuel D. M. Pimenta

Em 10/set/2011, ocorreu na Costa Amalfitana, Itália, na Academia Holotopia – lugar descrito por Homero onde Ulisses encontrou as sereias, na Odisseia – a primeira exposição do projeto arquitetônico de Emanuel Pimenta, arquiteto e urbanista, para um edifício em órbita do planeta Terra: Kairos.

Kairos é um projeto arquitetônico para um edifício espacial, totalmente tensionado, feito com tecido antibalístico flexível, desprogramável, e aberto à sociedade civil de todo o mundo. Brevemente será lançado o livro "Kairos: Um Pássaro em Órbita do Planeta Terra", na Amazon.com e distribuído em praticamente todos os países. Em novembro também será lançado o filme sobre Kairos.
Há todas as informações em http://www.emanuelpimenta.net/kairos.html

16 setembro 2009

-SHIR_LAMAALOT

15 agosto 2009

O Estatuto do homem - Thiago de Mello

Os Estatutos do Homem (ato institucional permanente)

A Carlos Heitor Cony

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

Thiago de Mello
Santiago do Chile, abril de 1964

31 julho 2009

Resolução nº 1/1971 do TJ de São Paulo


- Criação de Serventias Registrais.

Após quase 40 anos da criação de mais 2 (dois) Ofícios de Registros de Imóveis na Capital do Estado de São Paulo, pela Resolução de nº 1 do Egrégio Tribunal de Justiça paulista, tomada no dia 29 de dezembro de 1971, pelo avanço do progresso, pela velocidade em que as coisas acontecem, pela urgência da transferência, modificação e criação de direitos, a população paulistana necessita de outros tantos.

Alguns Oficiais de Registros não acompanharam tal evolução; para ser claro, parece que pararam no tempo. Qualificar e registrar um único título pode levar 30 (trinta) dias, que é o tempo limite permitido pela Lei de Registros Públicos - outra também já ultrapassada, diga-se de passagem.

Seguindo a tradição, com a criação de pelo menos mais 2 (dois) Registros de Imóveis, os 19º e 20º (desmembrando-se alguns subdistritos) uma forte barreira será ultrapassada. Não quero aqui dar nome aos bois para não criar pânico, mas já há um forte rumor e trabalho sério, ao que se sabe, no sentido da criação desses novos Serviços Registrais.

No mínimo, a classe registradora, com a diminuição da receita de alguns de seus pares, certamente irá despertar para essa nova realidade. As coisas simplesmente acontecem; e acontecem não somente da noite para o dia, mas às vezes em horas. E a segurança jurídica necessita dessa resposta imediata.

Vide, por exemplo, o BacenJus e a mais moderna penhora online. Este clamor dos escritórios de advogados, imobiliárias, companhias securitizadoras, de créditos, bancos, factorings, particulares p. f. etc., já está ecoando nos corredores do TJ-SP.

Então, alguns Registradores devem deixar a advocacia para os advogados, a fé pública para os notários, as decisões para os magistrados e, efetivamente, desempenharem seus verdadeiros papéis de registradores. Evidentemente, sobrará mais tempo para se dedicarem à sua função, qualificando e registrando com seriedade, arrojo, profissionalismo e rapidez.


"Vejo que hoje, neste século que é a aurora da razão, ainda renascem algumas cabeças de hidra do fanatismo. Parece que seu veneno é menos mortífero e que suas goelas são menos devoradoras. O sangue não correu pela graça versátil como correu há muito tempo pelas indulgências plenárias, vendidas no mercado. Mas o monstro ainda subsiste e todo aquele que buscar a verdade arriscar-se-á a ser perseguido.

Deve-se permanecer ocioso nas trevas? Ou deve-se acender um archote onde a inveja e a calúnia reacenderão suas tochas? No que me tange, acredito que a verdade não deve mais esconder-se diante dos monstros e que não devemos abster-nos do alimento com medo de sermos envenenados." ( 'Início da Razão', in "O filósofo Ignorante", de VOLTAIRE)

02 fevereiro 2009

ALMA

Sei que eu não vou te convencer
e nem você vai me mudar
mas mesmo assim a gente vive
querendo provar e comprovar
seja como for, que deu certo o nosso amor.

É, bem melhor seria ver
que inda é tempo de parar
e que mais tarde
pode ser muto tarde
pra se recomeçar
que vai ser pior
isso tudo eu sei de cor.

Antes de andar com você
eu não era feliz
mas eu podia esperar e tentar,
eu podia sonhar
e eu procurei por você
por toda a minha vida
quando encontrei acertei, ou errei
eu só sei que não vou te convencer
e nem você vai me mudar
mas mesmo assim a gente vive
querendo provar e comprovar
seja como for, que deu certo o nosso amor.


(letra de Cacaso na belíssima composição de Eduardo Gudin).
- Comentário: Todo mundo deveria ouvir essa música (lp "Coração Marginal", de 1977 - Continental) e, depois, ver o casamento da letra do Cacaso (na voz de Márcia) no lp "Fogo Calmo das Velas" (de 1981, Continental): nunca vi uma combinação de tal nível; a música e a letra toca fundo, n´Alma.

05 novembro 2008

Gabriela - amizade etc.


G e n e r o s i d a d e
A m i z a d e
B e l e z a
R e a l e z a
I n t e l i g ê n c i a
E n c a n t o
L i b e r d a d e
A m o r

Gabriela, que o Sr. Jesus ilumine sempre o teu caminho.
Que haja luz na tua vida. Em todos os momentos.

Com carinho,

Silviano Floriano Fº

08 junho 2008

O Saci na Copa do Mundo 2014

Numa reunião ontem na Biblioteca Monteiro Lobato, nos lembramos de uma coisa: vem aí a Copa do Mundo (2014 tá longe, mas é bom começar logo) e com certeza os marketeiros e lobbistas vão querer inventar uma mascote besta que nem o tal de Cauê (aquele sol esquisito) dos Jogos Panamericanos. Que tal começarmos já uma campanha para que a mascote seja o Saci? Veja as vantagens: Primeiro, não seria preciso pagar direitos autorais a ninguém. No máximo, o que poderia ser feito é um concurso para cartunistas etc, para escolher o melhor desenho. E por que o Saci? - Ele é a síntese da formação do povo brasileiro: É o mito brasileiro mais popular, o único conhecido no Brasil inteiro (Boitatá, Curupira e mesmo a Iara requerem explicações quando a gente fala deles, em alguns lugares. O Saci não). É o típico brasileiro: mesmo pelado e deficiente físico, é brincalhão e gozador. E tem mais: - no início era um indiozinho protetor da floresta. Tinha duas pernas. - depois foi adotado pelos negros e virou negro. A perda de uma perna tem várias histórias. Uma delas é que ele foi escravizado, ficou preso pela perna, com grilhões, e cortou a perna presa. Preferiu ser um perneta livre do que escravo com duas pernas. É um libertário, então. - dos brancos, ganhou o gorrinho vermelho, presente em vários mitos europeus. O gorrinho vermelho era também usado pelos republicanos, durante a Revolução Francesa. Na Roma antiga, os escravos que se libertavam ganhavam um gorrinho vermelho chamado píleo. Só ná tem orientais nessa história porque eles chegaram mais tarde, já no século XX. Mas dizem que já foi visto um Saci de olhinhos puxados, no bairro da Liberdade, o Sashimi. Você pode entrar no sítio da Sosaci que tem um monte de histórias de gente que viu o Saci, inclusive esse Sashimi (é a quarta ou quinta história). Então, olha aí uma proposta, pedido, convocação ou sei lá o quê: entre nessa também. Se você topar, vai ser uma baita força. Ajude a divulgar esta idéia e, se tiver condições, escreva, fale com quem tem espaço na mídia para que declarem sua adesão nos jornais, revistas, rádio, TV, blogues etc. Já pensou o Saci em camisetas no mundo inteiro? Ele provocaria muito interesse dos outros povos para a cultura popular brasileira. Coisa que esses símbolos bestas (como o dos Jogos Panamericanos) não fazem. Um abração. Mouzar

09 janeiro 2008

Gabriela, meu amor

Gabi, Pedro e Júlia,
Saibam que o papai ama muito vocês.

04 outubro 2007

27 fevereiro 2007

Lei 11.441/2007 - Partilha Desequilibrada - Evicção

Caros amigos,

Saudações!

Realmente, que me perdoe o menos estudioso: há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia; entretanto, o bom senso muitas vezes prevalece. Explico:

Nas vésperas de ser editada a lei de arrolamentos e divórcios extrajudiciais, numa roda de juristas de botequim, discutíamos sobre evicção de direito quando da partilha de bens, seja em decorrência de inventário ou da separação/divórcio. Tinha para mim que as partes deveriam ser advertidas da possibilidade de ser privada (tirada) daquele quantum que lhe tocou; o espanto era geral e a maioria acreditava que não caberia.

Ontem, manuseando um velho Silvio Venosa (edição de 1991) verifiquei que minha tese tinha fundamento: não estava sozinho. Nesse ponto sei que alguns poderão estar rindo ( o Miro acredita ter descoberto o ovo de Colombo…), mas, francamente, nesses últimos 25 anos de cartório não vi nenhum processo judicial, nenhumzinho, que garantisse ao herdeiro/ separando/ divorciando o direito de re-partilha no caso da evicção.

Quem tiver qualquer autor em casa poderá verificar, nos capítulos finais do curso sobre Direito das Sucessões, os comentários do Artigo 2.024 do novel Código Civil (antigo Artigo 1.802). Corri comprar um mais atualizado para conferir as “novidades” pós CC1916.

Em sua sexta edição (Atlas, 2006, v. 7), o douto Professor Silvio de Salvo Venosa diz que “feita a partilha, supõe-se que a igualdade tenha sido atingida. Por essa razão é que os artigos seguintes tratam da perda de algum bem hereditário por força da evicção.

“Se a perda do bem, por ato judicial, deveu-se à causa anterior à morte, ou à partilha, o herdeiro que recebeu esse bem não pode ser prejudicado. Todos devem suportar essa perda, uma vez que o conteúdo dessa atribuição desapareceu antes da abertura da sucessão.

E continua: “Daí a disposição (do art. em comento): “os co-herdeiros são reciprocamente obrigados a indenizar-se, no caso de evicção, dos bens aquinhoados”. Divide-se entre todos o prejuízo, já que o herdeiro que perde a coisa, não fosse essa regra, ficaria prejudicado, e a partilha prejudicada”. E segue com muitos detalhes, da indenização, do desconto, da insolvência dos co-herdeiros, do prazo prescricional etc.

“Concorrendo na herança com outros herdeiros, não pode (o herdeiro evicto) ser prejudicado pela má sorte (essa é a palavra-chave por mim utilizada quando da exposição etílica) de ter-lhe sido atribuído exatamente um bem nessas condições (a non domino)”.

Fica aqui, caros colegas, um tema para reflexão. Sem falsa modéstia, creio que esse assunto correrá a Rosa dos Ventos, ao menos esse é o meu desejo. Nesse interim, como de costume, ao menos aqueles que utilizarem os meus humildes serviços serão advertidos vez que a evicção poderá ser reforçada, diminuída ou excluída, conforme o estabelecido pelos interessados, sempre escudados pelos seus advogados.

Cordialmente,

Waldomiro Nogueira de Paula

18 janeiro 2007

Pessoas são mais importantes que patentes

MEDICAMENTOS
Boletim do
IDEC - 15 de Janeiro de 2007

Pessoas são mais importantes que patentes


A empresa farmacêutica Novartis está processando o governo indiano. Se a empresa vencer, milhões de pessoas de todo o mundo poderão perder suas fontes de medicamentos a preços acessíveis.

O Idec assinou hoje, 15 de janeiro, uma petição criada pela organização humanitária
Médicos sem Fronteiras (MSF), exigindo que a empresa farmacêutica Novartis abandone a ação contra a lei de patentes da Índia - que contém dispositivos para garantir que as pessoas sejam mais importantes que as patentes. O objetivo da Novartis é forçar uma mudança na lei indiana, impedindo restrições à concessão de patentes naquele país.


Há cinco anos, a Novartis foi uma das 39 empresas que processaram o governo sul-africano para evitar que ele importasse medicamentos para Aids mais baratos. Agora, a empresa tenta fazer o mesmo: impedir que as pessoas tenham acesso aos medicamentos de que necessitam. Como a Índia produz medicamentos essenciais para a vida de milhares de pessoas de países em desenvolvimento, a preços acessíveis, não é interessante para a grande farmacêutica que a situação continue dessa forma.

Medicamentos genéricos anti-retrovirais produzidos na Índia, por exemplo, são utilizados para tratar mais de 80% das 80 mil pessoas que recebem, atualmente, tratamento por meio de algum dos projetos de Aids do MSF. Caso a Novartis prossiga com o caso, os medicamentos essenciais terão mais chances de ser patenteados na Índia, restringindo, portanto, a produção de genéricos e mantendo preços altos principalmente para os remédios mais novos, dificultando tratamentos como o da Aids.

Para assinar a petição, acesse:
www.msf.org/petition_india/brazil.html.

16 janeiro 2007

Caput Mundi


Saudade de Roma:

O Templo de Júpiter, na parte sul do monte Capitolino (Campidoglio) era o centro do mundo romano. Um caminho em ziguezague a partir do Fórum levava ao templo, cenário de quase todas as cerimônias sagradas e políticas.


A colina e o templo simbolizavam a autoridade de Roma como capital do mundo, e o conceito de cidade "capital" originou-se no Campidoglio.

Esta magnífica praça, criação de Michelangelo, data do século XVI e ao seu redor encontram-se dois edifícios de três que formam os Museus Capitolinos.

11 janeiro 2007

Moncra e a Lei nº 11.441/2007

Parabéns, Ceschin, pela iniciativa!

Sua atitude me faz recordar um sempre bem-vindo Acórdão da lavra do Des. Luís de Macedo, então Corregedor Geral da Justiça e Relator na Apelação Cível apreciada pelo Colendo Conselho Superior da Magistratura de São Paulo, que dizia:

... Não se vislumbra em tal operação, como se acha proposta no título recepcionado, a intenção de burlar o regime de bens da comunhão parcial, mas a de aplicar todas as suas regras, inclusive aquelas excludentes ou exceptivas...

A Lei nº 11.441/2007 tem míseros três artigos explícitos que, em suma, dão o start para que os notários e as partes interessadas, assistidas de seus advogados (que no seu ministério privado, nos termos do § 1º do Artigo 2º do estatuto da OAB, prestam serviço público e exercem função social), possam levar a cabo as separações, divórcios, arrolamentos e a partilha de bens, cabendo a cada profissional zelar para o bom e fiel cumprimento da lei maior, ou seja: para se chegar ao fim almejado há que ser aplicada, caso a caso, cada regra do Direito, sob pena de a lei se tornar uma moncra (leia-se um monstro).

Parodiando um bom programa televisivo:- Ceschin é gente que faz!

Cordialmente,
Waldomiro

21 dezembro 2006

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —

Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —

Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —

Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —

De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
________________________________________
Vinicius de Moraes in: "Antologia Poética", Editora do Autor -
Rio de Janeiro, 1960, pág. 147.

04 dezembro 2006

Saci escrivão












      • Prezados amigos da SOSASI, Saudações! Sou pessoa maior, capaz e em perfeito juízo de minhas faculdades mentais. Sou escrevente notarial e, portanto, exerço uma das profissões mais antigas da humanidade. Antes mesmo da invenção da escrita o homem vem procurando formas de perpetuar os fatos, os atos, o conhecimento etc. Como não poderia deixar de ser, entre tantos documentos que passaram por minhas mãos em mais de vinte anos de profissão e estão registrados em livros notariais, o encontro que tive com a SOSACI vem possibilitar e divulgar a arte da observância e preservação dos sacis e seus amigos. Quero deixar claro que não sei por qual motivo eles fazem parte do folclore brasileiro, pois são seres vivos, uma realidade entre nós. Já, conta minha mãe, num pequeno sítio em Santa Branca, situada no Vale do Paraíba (interior de São Paulo), meu bisavô mantinha um sacizeiro (não sei se é o termo apropriado); entretanto, amplo, muito bem arejado, protegido do frio e - mais importante, sem portas. Lá nossos amigos encontravam tudo de que precisavam, a exemplo: frutas, mingau de fubá, café fraquinho e fumo de corda. Enfim, gostaria de poder participar dessa sociedade que poderá me dar o suporte necessário para, afinal, conseguir provar para os incrédulos que Saci e cia. existem sim. Se eu conseguir convencer meu filho (hoje está com dez meses de vida) já vai ser uma vitória e um belo começo!
      • Bençãos e Luz!
      • Waldomiro Nogueira de Paula
      • XXº Tabelionato de Notas de São Paulo - SP

02 dezembro 2006

Aula de Inglês



por Rubem Braga

— Is this an elephant?

Minha tendência imediata foi responder que não; mas a gente não deve se deixar levar pelo primeiro impulso. Um rápido olhar que lancei à professora bastou para ver que ela falava com seriedade, e tinha o ar de quem propõe um grave problema. Em vista disso, examinei com a maior atenção o objeto que ela me apresentava.

Não tinha nenhuma tromba visível, de onde uma pessoa leviana poderia concluir às pressas que não se tratava de um elefante. Mas se tirarmos a tromba a um elefante, nem por isso deixa ele de ser um elefante; mesmo que morra em conseqüência da brutal operação, continua a ser um elefante; continua, pois um elefante morto é, em princípio, tão elefante como qualquer outro. Refletindo nisso, lembrei-me de averiguar se aquilo tinha quatro patas, quatro grossas patas, como costumam ter os elefantes. Não tinha. Tampouco consegui descobrir o pequeno rabo que caracteriza o grande animal e que, às vezes, como já notei em um circo, ele costuma abanar com uma graça infantil.

Terminadas as minhas observações, voltei-me para a professora e disse convincentemente:

— No, it's not!

Ela soltou um pequeno suspiro, satisfeita: a demora de minha resposta a havia deixado apreensiva. Imediatamente perguntou:

— Is it a book?

Sorri da pergunta: tenho vivido uma parte de minha vida no meio de livros, conheço livros, lido com livros, sou capaz de distinguir um livro a primeira vista no meio de quaisquer outros objetos, sejam eles garrafas, tijolos ou cerejas maduras — sejam quais forem. Aquilo não era um livro, e mesmo supondo que houvesse livros encadernados em louça, aquilo não seria um deles: não parecia de modo algum um livro. Minha resposta demorou no máximo dois segundos:

— No, it's not!

Tive o prazer de vê-la novamente satisfeita — mas só por alguns segundos. Aquela mulher era um desses espíritos insaciáveis que estão sempre a se propor questões, e se debruçam com uma curiosidade aflita sobre a natureza das coisas.

— Is it a handkerchief?

Fiquei muito perturbado com essa pergunta. Para dizer a verdade, não sabia o que poderia ser um handkerchief; talvez fosse hipoteca... Não, hipoteca não. Por que haveria de ser hipoteca? Handkerchief! Era uma palavra sem a menor sombra de dúvida antipática; talvez fosse chefe de serviço ou relógio de pulso ou ainda, e muito provavelmente, enxaqueca. Fosse como fosse, respondi impávido:

— No, it's not!

Minhas palavras soaram alto, com certa violência, pois me repugnava admitir que aquilo ou qualquer outra coisa nos meus arredores pudesse ser um handkerchief.

Ela então voltou a fazer uma pergunta. Desta vez, porém, a pergunta foi precedida de um certo olhar em que havia uma luz de malícia, uma espécie de insinuação, um longínquo toque de desafio. Sua voz era mais lenta que das outras vezes; não sou completamente ignorante em psicologia feminina, e antes dela abrir a boca eu já tinha a certeza de que se tratava de uma palavra decisiva.

— Is it an ash-tray?

Uma grande alegria me inundou a alma. Em primeiro lugar porque eu sei o que é um ash-tray: um ash-tray é um cinzeiro. Em segundo lugar porque, fitando o objeto que ela me apresentava, notei uma extraordinária semelhança entre ele e um ash-tray. Era um objeto de louça de forma oval, com cerca de 13 centímetros de comprimento.

As bordas eram da altura aproximada de um centímetro, e nelas havia reentrâncias curvas — duas ou três — na parte superior. Na depressão central, uma espécie de bacia delimitada por essas bordas, havia um pequeno pedaço de cigarro fumado (uma bagana) e, aqui e ali, cinzas esparsas, além de um palito de fósforos já riscado. Respondi:

— Yes!

O que sucedeu então foi indescritível. A boa senhora teve o rosto completamente iluminado por onda de alegria; os olhos brilhavam — vitória! vitória! — e um largo sorriso desabrochou rapidamente nos lábios havia pouco franzidos pela meditação triste e inquieta. Ergueu-se um pouco da cadeira e não se pôde impedir de estender o braço e me bater no ombro, ao mesmo tempo que exclamava, muito excitada:

— Very well! Very well!

Sou um homem de natural tímido, e ainda mais no lidar com mulheres. A efusão com que ela festejava minha vitória me perturbou; tive um susto, senti vergonha e muito orgulho.

Retirei-me imensamente satisfeito daquela primeira aula; andei na rua com passo firme e ao ver, na vitrine de uma loja, alguns belos cachimbos ingleses, tive mesmo a tentação de comprar um. Certamente teria entabulado uma longa conversação com o embaixador britânico, se o encontrasse naquele momento. Eu tiraria o cachimbo da boca e lhe diria:

— It's not an ash-tray!

E ele na certa ficaria muito satisfeito por ver que eu sabia falar inglês, pois deve ser sempre agradável a um embaixador ver que sua língua natal começa a ser versada pelas pessoas de boa-fé do país junto a cujo governo é acreditado.

Maio, 1945.
___________________________________________________

A crônica acima foi extraída do livro:
"Um pé de milho", Editora do Autor - RJ, 1964, pág. 33.

22 novembro 2006

E a NASA (quase) chegou lá...


Há quanto tempo é conhecida a duração do ciclo lunar? É possível que na Torá - revelada por D'us a Moisés há mais de 3.300 anos - estejam incluídos dados astronômicos exatos, os quais a NASA e outros centros de investigação do mundo só descobriram há poucos anos? E que isto só se deu graças aos novos recursos eletrônicos e tecnológicos que possuem? Para nosso assombro, a resposta é uma só: sim.

Antes de contar sobre como D'us tirou nosso povo do Egito, a Torá relata que Ele transmitiu a Moisés a primeira mitzvá (preceito) a ser cumprida pelo povo judeu. D'us ordenou que Moisés (e todos os tribunais rabínicos que o sucederiam) fixasse os meses do ano através do cálculo do ciclo lunar, ou seja, do tempo que a Lua leva para dar uma volta completa em torno da Terra.


O Midrash conta que D'us mostrou a Moisés a Lua nova e disse: "Quando a Lua se renovar, será Rosh Chodesh (começo do mês)". Segundo a Guemará, no tratado de Menachot 29A, Moisés sentiu dificuldade para entender o sistema de fixação do mês, até que D'us indicou o formato de como a Lua deveria estar.


É sabido que, no começo do mês, a Lua é vista da Terra em uma forma parecida com uma foice. Com o passar dos dias, vai crescendo e, na metade do mês, podemos ver a Lua cheia. Depois, começa a diminuir até desaparecer de nossa visão, para depois "nascer" novamente. O dia do nascimento da Lua marca o começo de mês judaico: Rosh Chodesh. O ato de anunciar e fixar o primeiro dia do mês é chamado Kidush Hachodesh (Santificação do Mês).


A determinação do Rosh Chodesh no calendário judaico tem uma grande importância, pois as festividades são celebradas de acordo com uma data fixada no mês judaico. Cada uma das nossas festas envolve leis específicas: Pessach é celebrado no dia 15 do mês de Nissan. A partir dessa data é proibido consumir chamets (alimentos fermentados) por sete dias; Yom Kipur, no dia 10 de Tishrei, é um dia de jejum e arrependimento. No dia 15 de Tishrei começa Sucot, festa na qual comemos e dormimos em cabanas durante sete dias. Um erro na contagem do Rosh Chodesh significaria deixar de comemorar estes dias e, assim, transgredir um preceito divino.


O Talmud nos relata a seguinte história: "Uma vez, no dia 29 do mês, cobriram-se os céus de nuvens e apareceu algo similar à Lua. O povo interpretou que esse era o dia de Rosh Chodesh e disse ao Beit Din (Tribunal Rabínico) que já estava na hora de santificar o mês. Raban Gamliel respondeu, então: 'Aprendi através da tradição oral, com a família de meu pai, que a Lua não se renova em menos de 29 dias e meio (doze horas), dois terços de hora e setenta e três frações'".


Raban Gamliel, que viveu no século I da era comum, alegou ter aprendido através da transmissão oral da Torá que o ciclo da Lua nunca pode durar menos de 29 dias e tantas partes. Mesmo contrariando todo o povo, que dizia estar vendo a Lua, Raban Gamliel sabia que a informação que recebera de seu pai, e seu pai do pai dele, até Moisés, era perfeita.


Quando Raban Gamliel falou de "frações" não se referia aos minutos, mas sim a frações de uma hora. Nossos Sábios utilizaram, por razões de praticidade, um sistema para medir o tempo no qual cada hora estava dividida em 1.080 frações.


Depois de estudar o ciclo da Lua por meio de satélites, telescópios e supercomputadores, o cientista-chefe da NASA (National Aeronautics and Space Administration), Carl Sagan, chegou à seguinte conclusão: o tempo que a Lua leva para se renovar, medido entre um nascimento e o seguinte é de 29,530588 dias. Como podemos ver, existe uma ínfima diferença entre seu cálculo e o cálculo da Torá (0,000002 dias)! A NASA quase chegou lá...


Porém, ficamos mais assombrados quando foi difundido um estudo mais recente realizado na cidade de Berlim, Alemanha, no qual essa diferença entre o cálculo da ciência moderna e o da Torá ficou menor ainda. Esta investigação concluiu que o ciclo da Lua é de 29,530589 dias (Astronomy and Astrophysics, Loudlt Bómstein Group, vol.1 sec. 2.2 4). Desta vez os cientistas erraram por somente 0,000001 dias!

Nós, que acreditamos sem a menor dúvida que a Torá foi entregue ao nosso povo pelo Criador do Universo, sabemos que entre os detalhes de muitas mitzvót foram revelados grandes segredos da criação do mundo, os quais D'us considerou necessário que soubéssemos para poder cumprir as mitzvot da melhor forma possível.

O exemplo do cálculo do ciclo lunar necessário para fixar as datas das festividades da Torá é apenas um entre muitos. Mas já basta para que uma pessoa inteligente, observadora e desprendida de influências e interesses criados por conhecimentos anteriores chegue à conclusão de que é absolutamente impossível que um ser humano tenha escrito a Torá.

Raban Gamliel não hesitou nenhum instante em contradizer o povo que veio pedir que fosse declarado o novo mês. Era claro para ele que, segundo nossa tradição, ainda não podia ser declarado o Rosh Chodesh. Atualmente, graças à ciência moderna, sabemos claramente que o que eles viram não foi a Lua nova, mas sim uma imagem provocada pelas sombras das nuvens que cobriram o céu naquela noite.

Um cientista norte-americano disse que a ciência anseia por saber o que há do outro lado do monte. Para tanto, empreendem uma longa e cansativa escalada ao topo do monte. Mas quando conseguem chegar lá em cima, encontram um grupo de pessoas que seguem os mandamentos e os ensinamentos da Torá que dizem: "Ufa! Finalmente vocês chegaram!".

Como conclusão, só resta lembrar as palavras da Torá:
"... Porque isto (a Torá) é a vossa sabedoria e o vosso entendimento à vista dos povos, que ouvirão todos estes estatutos e dirão: 'Somente esta grande nação é povo sábio e entendido' " (Deuteronômio 4:6).

Hoje, dois mil anos depois de Raban Gamliel pronunciar suas palavras, com a sofisticação da tecnologia e da ciência, em uma geração que tem como lema "ver para crer", também pode ser demonstrada claramente a veracidade da Torá.

Artigo do Rabino Avraham Cohen, publicado na:
Revista Morashá (nº 44, abril de 2004, página 36)

Cálculo lunar segundo tradição oral (Raban Gamliel):

Ciclo da lua = 29,5 dias + 2/3 de hora + 73 frações
Uma hora = 1.080 frações de hora 2/3 de hora = 2/3 de 1.080 = 720
Ciclo da Lua = 29,5 dias + 720 frações + 73 frações de hora
Ciclo da Lua = 29,5 dias + 793 frações

Passando as "frações de hora" para horas, ou seja, dividindo-as por 1.080, temos:
Ciclo da lua = 29,5 dias + 0,734259 horas

Convertendo as horas em dias, ou seja, dividindo-as por 24:
Ciclo da lua = 29,5 dias + 0,030590 dias
Ciclo da lua segundo Raban Gamliel = 29,53059 dias


O tempo não para...: a Ressonância Schumann

Não apenas as pessoas mais idosas mas também jovens fazem a experiência de que tudo está se acelerando excessivamente. Ontem foi Carnaval, dentro de pouco será Páscoa, mais um pouco, Natal. Esse sentimento é ilusório ou tem base real? Pela ressonância Schumann se procura dar uma explicação. O físico alemão W. O. Schumann constatou em 1952 que a Terra é cercada por uma campo eletromagnético poderoso que se forma entre o solo e a parte inferior da ionosfera, cerca de 100 Km acima de nós. Esse campo possui uma ressonância (dai chamar-se ressonância Schumann), mais ou menos constante, da ordem de 7,83 pulsações por segundo. Funciona como uma espécie de marca-passo, responsável pelo equilíbrio da biosfera, condição comum de todas as formas de vida. Verificou-se também que todos os vertebrados e o nosso cérebro são dotados da mesma frequência de 7,83 hertz. Empiricamente fez-se a constatação de que não podemos ser saudáveis fora dessa frequência biológica natural. Sempre que os astronautas, em razão das viagens espaciais, ficavam fora da ressonância Schumann, adoeciam. Mas submetidos à ação de um simulador Schumann recuperavam o equilíbrio e a saúde. Por milhares de anos as batidas do coração da Terra tinham essa freqüência de pulsações e a vida se desenrolava em relativo equilíbrio ecológico. Ocorre que a partir dos anos 80, e de forma mais acentuada a partir dos anos 90, a freqüência passou de 7,83 para 11 e para 13 hertz por segundo. O coração da Terra disparou. Coincidentemente, desequilíbrios ecológicos se fizeram sentir: perturbações climáticas, maior atividade dos vulcões, crescimento de tensões e conflitos no mundo e aumento geral de comportamentos desviantes nas pessoas, entre outros. Devido à aceleração geral, a jornada de 24 horas, na verdade, é somente de 16 horas. Portanto, a percepção de que tudo está passando rápido demais não é ilusória, mas teria base real nesse transtorno da ressonância Schumann. Gaia, esse superorganismo vivo que é a Mãe Terra, deverá estar buscando formas de retornar a seu equilíbrio natural. E vai consegui-lo, mas não sabemos a que preço, a ser pago pela biosfera e pelos seres humanos. Aqui abre-se o espaço para grupos esotéricos e outros futuristas projetarem cenários, ora dramáticos, com catástrofes terríveis, ora esperançadores, como a irrupção da quarta dimensão, pela qual todos seremos mais intuitivos, mais espirituais e mais sintonizados com o biorritmo da Terra. Não pretendo reforçar esse tipo de leitura. Apenas enfatizo a tese recorrente entre grandes cosmólogos e biólogos de que a Terra é, efetivamente, um superorganismo vivo, de que Terra e humanidade formamos uma única entidade, como os astronautas testemunham de suas naves espaciais. Nós, seres humanos, somos Terra que sente, pensa, ama e venera. Porque somos isso, possuímos a mesma natureza bioelétrica e estamos envoltos pelas mesmas ondas ressonantes Schumann. Se queremos que a Terra reencontre seu equilíbrio, devemos começar por nós mesmos: fazer tudo sem estresse, com mais serenidade, com mais amor, que é uma energia essencialmente harmonizadora. Para isso importa termos coragem de ser anticultura dominante, que nos obriga a ser cada vez mais competitivos e efetivos. Precisamos respirar juntos com a Terra, para conspirar com ela pela paz.

10 novembro 2006

OAB de São Paulo divulga na Internet lista de inimigos da Advocacia

A OAB de São Paulo decidiu divulgar em seu saite ( www.oabsp.org.br ) uma lista com os nomes de 173 pessoas consideradas inimigas da categoria, como juízes, policiais, promotores e jornalistas.

A divulgação provocou protestos de entidades de classe e de pessoas citadas, que consideram a medida abusiva. A lista inclui nomes de profissionais que, segundo deliberação interna de comissão da OAB-SP, violaram as prerrogativas dos advogados. Essas pessoas teriam impedido o trabalho ou ofendido advogados durante o exercício da profissão.

O caso foi revelado inicialmente pela revista Consultor Jurídico. Além da exposição, ter o nome na lista pode gerar represália, porque a OAB-SP se dispõe a negar a carteira da entidade para aquele profissional que queira, depois, atuar como advogado. O advogado Mário de Oliveira Filho, presidente da Comissão de Direitos e Prerrogativas da OAB-SP, afirma que a medida é baseada em lei, segundo a qual as seccionais da OAB podem abrir procedimentos contra profissionais que prejudicam as funções do advogado. Ele disse que isso sempre foi feito, mas a divulgação era mais restrita. Pela sistemática adotada pela OAB-SP, primeiro a Comissão de Direitos e Prerrogativas - após pedir uma defesa escrita por parte do denunciado - vota a moção de repúdio ou desagravo. Esse ato já era lido, antes, em uma sessão da comissão e depois publicado no Diário Oficial.

A novidade é que esse cadastro está mais acessível. Pode ser consultado pelo saite da OAB/SP. Por enquanto, a divulgação da lista pela Internet é um ato isolado da seccional paulista. A assessoria da seccional do Rio confirmou que está elaborando seu cadastro, mas não há previsão de divulgação pelo seu saite. Na lista de inimigos, há 53 juízes, 30 policiais civis, 23 vereadores, 17 promotores, três procuradores da República e dois jornalistas, um deles Elio Gaspari, colunista da Folha de São Paulo.

CONTRAPONTOS

*Segundo representantes de juízes, promotores e procuradores, a medida é abusiva. O presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil), Walter Nunes Júnior, afirma que a OAB não poderia criar um foro para julgar outro profissional por ser uma entidade de classe. "É uma ingerência julgar todo e qualquer profissional sob o argumento de que estaria usurpando a prerrogativa da Advocacia."

* Em nota, o procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho, disse que a medida "destoa dos mais elementares princípios legais e constitucionais", pois a OAB não tem poder para julgar outro profissional.

* O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, Nicolao Dino de Castro, disse, em nota, que isso implica "indevido cerceio a uma atividade profissional".

* Para o colunista Elio Gaspari, "a publicação me fez perder o respeito pela OAB". Ele afirma que "um grupo de pessoas que acha que você fez uma coisa errada, se reúne e condena". Gaspari disse também que, no processo interno da OAB, não teve o direito de se defender pessoalmente. Ele foi incluído na lista por conta de processo movido por uma procuradora contra ele e a Folha após publicação de texto em que contestava parecer em que ela apontava a necessidade de uma vítima de tortura provar que foi mantida em cativeiro. Ela teve decisão favorável em primeira instância. Gaspari recorreu. O caso tramita no Tribunal de Justiça.

* O jornalista e advogado Ricardo Piccolomini de Azevedo, diretor do jornal "A Comarca" de Mogi Mirim (SP) , classificou a lista com seu nome como uma "atitude corporativista". Ele publicou reportagens que questionavam os honorários que os advogados da Prefeitura de Mogi Mirim recebiam quando defendiam o município.

* Para o procurador da República Sérgio Suiama, seu nome foi incluído por ter chamado advogados da Igreja Universal de "representantes do ódio e da intolerância racial". Ele havia acatado representação de entidades afro-brasileiras que se sentiram ofendidas com declarações de pastores da igreja contra praticantes de religiões como o candomblé. "Eu disse e repito, pois aqueles advogados estavam defendendo esse tipo de postura [preconceituosa]." * O vereador Gilberto Barreto (PSDB) disse que teve seu nome incluído na lista quando tentou impedir que um advogado interferisse nas declarações de uma testemunha em depoimento à CPI que apurou supostas irregularidades no Tribunal de Contas do Município, em 2003. "Sou advogado, inscrito na OAB/SP há quase 30 anos, e nunca fui comunicado dessa decisão. A OAB não pode tomar uma decisão com base em um entendimento que é só da entidade".

* A Associação Nacional dos Magistrados Trabalhistas afirma que "a OAB não pode fiscalizar juízes". Justifica que "magistrados, delegados, servidores e policiais militares estão sujeitos a diversas instâncias de regulação e fiscalização, dentre as quais não se incluiu a Ordem dos Advogados do Brasil". A entidade considerou "infeliz" a iniciativa da seccional paulista da OAB e concluiu que "ela viola inúmeras garantias do cidadão, como respeito à honra pessoal e a da impossibilidade de limite ao direito de trabalhar".

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Publicado em: www.jornaldaordem.com.br em 10 de novembro de 2006.