13 dezembro 2023

Benção dos Anjos (Vede o pé do Ipê)

Domingo de manhã, um frio intenso marca a forte presença do inverno, ao que parece será mais rigoroso que nos anos anteriores. Pacientemente eu estou aguardando a presença do sol ao que parece timidamente escondido entre a densa neblina dessa manhã domingueira.

Saio de casa portando a minha câmera digital e desço na direção da Rua Nestor Samuel de Oliveira, busco o óbvio igual a tantas pessoas, fotografar a beleza exuberante da mais bela e simpática de todas as árvores da “Cidade Presépio”. Ipê Rosa, plantada na divisa do terreno da Escola Barão de Santa Branca, com a Rua Nestor Samuel de Oliveira. A beleza e a exuberância das flores da grande árvore encantam a todos que passam pelo local, a ponto de transformar-se num verdadeiro cartão postal a parceria entre a árvore e a escola que generosamente oferta a terra onde solidificam suas raízes.

A bem da verdade é que a famosa Escola Barão sempre foi palco das maravilhas da natureza. Do meu tempo de menino lembro que existia uma ala de cedrinhos que caprichosamente eram moldados na forma de muro divisório entre a ala do recreio e a horta que abastecia a cozinha no preparo da merenda escolar preparada pelas mãos mágicas da Dona Benedita Wenceslau. Nos fundos da escola reinava três palmeiras imperiais ao lado da gigantesca paineira impondo a sua altivez ao desabrochar as flores alvas como a névoa da manhã.

As árvores e os cedrinhos constantemente passavam pelas necessárias maquiagens e retoques dos amigos; Sebastião Siqueira Porto e o velho Chico Totó, funcionários da escola na época. Com o progresso e aumento da população escolar houve a necessidade da retirada dos cedrinhos para a construção de mais duas salas de aula anexas. O espaço ficou reduzido e a terra nua sem nenhum arbusto para ornamentar aquele pequeno pedacinho de chão. Foi então que outras mãos generosas fizeram a grande diferença.

A ex-aluna da Escola, Branca Nogueira na época exercendo as funções de servente escolar solicitou da Diretora permissão para plantar uma pequenina muda de “Ipê Rosa” no espaço vazio ao lado das salas de aula recém construídas. Permissão concedida tratou logo de plantar a tenra mudinha da árvore. Carinhosamente como um ato religioso, a amiga e protetora da árvore regava generosamente o solo ao redor a fim de mantê-la saudável.

O tempo passou, quando se deu conta a árvore debutava a sua primeira florada para alegria de todos! Hoje na altivez da sua maturidade a árvore generosamente expõe toda a sua rica vestimenta num espetáculo digno dos mais exigentes observadores. Ipê Rosa, Amarelo, Roxo ou outra cor que o valha mostra toda a magnitude da natureza em breve momento que lhe é permitido desfilar e mostrar toda beleza de uma verdadeira deusa da passarela. São poucos dias do show que somente as câmeras podem registrar e mostrar a qualquer tempo.

Depois da florada vem o tempo do recolhimento na humildade, meses de silencio até a chegada do novo espetáculo. Mas há que se pensar e homenagear além da natureza, as mãos amigas que generosamente plantam e semeiam sem nada cobrar da natureza, além da alegria de olhar um dia o resultado da feliz parceria: Homem e a natureza, convívio pacífico e generosa que começa com pequenos gestos.

Obrigado amiga “Branca do Telefone”, permita-me chamá-la pelo carinhoso apelido que você recebeu quanto atuava como telefonista auxiliando seu pai, o mestre “Joaquim do Telefone”, no velho casarão da Praça Ribeiro Leite, atualmente sede da Associação Esportiva Santabranquense. Se existe alguém que possa receber um sorriso e um gesto de agradecimento do famoso “Ipê Rosa” é você, aliás, dizem algumas testemunhas que já notaram quando você passa pelo local uma leve brisa sopra sobre as folhas da árvore rainha curvando-as em sua direção num gesto de reverência à doadora da vida que é você.

Prezada amiga Branca, eu fico a pensar se cada santabranquense plantasse uma árvore no quintal a nossa cidade realmente dentro de alguns anos faria jus ao título de “Cidade Presépio”, teríamos a qualquer tempo árvores florindo aqui e ali. Afinal a natureza é generosa e sábia ao retribuir com flores e frutos as pessoas que fincam suas raízes no solo fértil da mãe terra. Termino este artigo com um pedido especial as senhoras e senhores vereadores. Elaborar um projeto de Lei visando proteger pelo menos duas árvores símbolos da nossa cidade. “A centenária Mangueira da Santa Casa e o maravilhoso Ipê Rosa da Escola Barão”. Não custará nada aos cofres públicos e fará muito bem a natureza.

Com autorização do autor, Wilson Chaves, e originalmente publicado no jornal,
O Santabranquense, edição de 24 de junho de 2009.

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